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Simples, barata, integrada, fácil de ser reproduzida e continuada. Com essas características, a tecnologia social começa a ser compreendida e a ganhar espaço entre organizações de terceiro setor, governos e empresas que investem em comunidades.
Enquanto a chamada tecnologia convencional olha para o mercado e visa lucro, a tecnologia social tem como meta o desenvolvimento humano. Para tanto, fundamenta‐se em princípios muito particulares, como, por exemplo, a transparência total no lugar do segredo industrial, o máximo aproveitamento do potencial humano em vez da redução permanente de mão de obra e a cooperação em detrimento da concorrência.
Na tecnologia social, as técnicas e os procedimentos são associados a formas de organização coletiva que produzam, em larga escala, resultados positivos para a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida. Não exigem investimento financeiro de grande monta e possibilitam novas aplicações mediante adaptações às peculiaridades locais.
Para Carlos Seabra, diretor de tecnologia do Instituto de Pesquisa e Projetos Sociais e Tecnológicos (Ipso), a origem da tecnologia social está na associação do pensamento acadêmico à ação coletiva da comunidade. “O ser humano faz tecnologia social desde que começou a andar em duas pernas. Ele busca soluções locais e o papel da academia é identificá‐las e refiná‐las.
Assim, as comunidades são despertadas para o protagonismo e cada uma constrói o seu próprio caminho. Como resultado, espera‐se uma conscientização que permita engajamento, autonomia e senso crítico na transformação da realidade.”
No Brasil, empresas e instituições que adotam o conceito de tecnologia social começam a se organizar. Já existe uma Rede de Tecnologia Social (RTS) abrigando quase duas dezenas delas em torno do objetivo de disseminar a nova metodologia de ação social. “Buscamos a melhoria da qualidade de vida da população ao unir o conhecimento científico gerado nas instituições de
pesquisa com o saber tradicional da comunidade”, diz Rodrigo Fonseca, do Finep, órgão de financiamento ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e integrante da RTS. “Com o trabalho em rede, queremos que algumas dessas tecnologias se transformem em políticas públicas, algo que, felizmente, já vem acontecendo.”
Segundo Fonseca, a principal força da rede são o porte e a credibilidade das instituições que a compõem. “As ações implementadas consistem em resultado de um processo efetivo de discussão entre quem pode financiar e quem lida diretamente com os problemas sociais”, avalia. Em relação ao retorno para seus integrantes, o técnico da Finep inclui o acesso a informações sobre experiências práticas e a troca de apoios na hora de reaplicar uma tecnologia.
Diretor do Grupo Cherto, Marcelo Cherto, especialista em franquias e associado à RTS, defende essa técnica como a melhor forma de reaplicação de tecnologias sociais. Para ele, um franqueado social difere de um comercial apenas pelo fato de não pretender auferir lucros de natureza financeira por meio da operação de sua franquia. “Estou envolvido na estruturação e implementação de diversas operações de franquia social. Nelas são empregadas as mesmas técnicas e ferramentas utilizadas para uma loja ou um restaurante. Constatei que é viável reaplicar, com sucesso, uma creche para crianças de famílias de baixa renda, uma unidade de alfabetização de adultos ou qualquer outra atividade sem fins lucrativos bem‐sucedida”, afirma Cherto.
Internet: www.ideiasustentavel.com.br (com adaptações).