Leia o texto com atenção e responda as questões de 1 a 5.
A CRIAÇÃO DE ADULTOS INFANTIS
É um erro poupar os filhos da realidade crua do cotidiano
O destino da criança e do jovem é, inevitavelmente, crescer. Crescer significa superar a infância e a adolescência e, desse modo, atingir a maturidade. Temos, entretanto, com os estilos de vida adotados na atualidade e com alguns valores sociais fortes que seguimos, criado inúmeras dificuldades que vêm atrapalhando o desenvolvimento dos mais novos e, portanto, a entrada deles na vida adulta.
Isso gera consequências não apenas para eles próprios, como para toda a sociedade que passa assim, a ter uma legião de adultos na idade cronológica, mas que se comportam de modo infantil ou juvenil. Eles acreditam que têm liberdade, porque não percebem que ela não existe sem a autonomia possível de ser alcançada; permanecem na dependência, principalmente emocional, porque não entendem a interdependência nas relações pessoais, por olharem principalmente para si; não mostram resiliência, tampouco perseverança, quando elas se fazem necessárias ante as inúmeras e cotidianas vicissitudes da vida.
O fato de o mundo adulto ter adotado o estilo juvenil de viver colabora muito para que os mais novos evitem crescer. É que crescer dói, e, entre dor e conforto, muitos têm escolhido, mesmo sem perceber, o conforto de permanecer jovem em vez de encarar a vida adulta com todos os compromissos e responsabilidades que ela nos impõe. E as famílias? Têm sua parcela de responsabilidade nessa questão? Sem dúvida. Há, principalmente na classe média - mas não apenas nesse segmento da sociedade -, muitos comportamentos que os pais têm com os filhos que também desfavorecem o desenvolvimento deles.
O primeiro mau comportamento é o que chamamos de superproteção, que nada mais é do que proteger o que não precisa mais de proteção, poupar os filhos da realidade da vida que, mais cedo ou mais tarde, deverão enfrentar por conta própria. O problema é que, quanto mais tarde eles desenvolvem mecanismos pessoais para fazer frente às demandas da vida real, menos recursos eles têm disponíveis para viver. Por que organizamos a vida de nossos filhos quando eles já têm condições de fazer isso? Por que acordamos mais cedo para chamá-los se eles já podem fazer isso sem nossa ajuda? Por que realizamos tarefas domésticas que dizem respeito ao pequeno universo deles - arrumar a cama, organizar o banheiro após o banho ou deixar em ordem as roupas de que vão precisar, por exemplo -, se eles podem assumir essas responsabilidades? Por que interferimos tanto nos problemas que eles enfrentam na vida escolar?
Esses são alguns exemplos que fazem parte do nosso cotidiano e que nos levam a pensar que, ao executarmos tais tarefas, estamos sendo boas mães e bons pais. Mas é exatamente o oposto: somos melhores mães e pais quando colaboramos para que o destino deles se realize, ou seja, quando oferecemos condições para que cresçam. Achamos ter, como pais, algumas vantagens quando, mesmo involuntariamente, agimos para que eles permaneçam com a criança - que não são mais - dentro deles: estarão sempre por perto porque precisarão de nós. Mas não seria melhor ter os filhos adultos por perto por admiração e reconhecimento de nosso árduo trabalho para torná-los adultos?
(SAYAO, Rosely. Revista veja, 14 de NOVEMBRO. p. 93).