Texto – Prepotência
A soberba não vem de quem nunca erra, vem de quem erra e se envergonha de seu erro a ponto de disfarçar a gravidade do que aconteceu. Fica imensamente encabulado por ser pego em flagrante. Em vez de oferecer desculpa e conforto, ataca e caça tristezas anteriores de sua companhia como equivalência. Seu discurso é: eu errei, mas você também já errou antes, portanto não tem o direito de apontar agora o meu erro.
Não admite ser nunca menos, mesmo quando foi menos. Interpreta a sua própria omissão como natural, indiferente ao estrago emocional proporcionado na vida do outro.
A prepotência não surge de quem nunca falha, e sim daquele que falha e não faz nada para corrigir a dor que causou. Porque a pessoa não está preocupada se magoou com uma brincadeira maldosa, uma grosseria ou um desleixo, está preocupada unicamente consigo, em manter sua imagem e rebater as críticas. Não tem a empatia do sofrimento, não se imagina no lugar do outro, não se coloca numa posição honestamente falível.
Aquele que ama pensa primeiro na dor que provocou em sua companhia para depois cuidar de si. Vai telefonar correndo, vai vir correndo, socorrer a aflição de seu par. - Desculpa, imagino o que está sofrendo, imagino o que entendeu.
A humildade generosa provará que foi um deslize e jamais será um hábito. A humildade generosa tratará de contornar, prontamente, o revés.
Já o arrogante é o que procura ter razão, não importa de que jeito, quando deveria ter somente sentimento naquela hora. E não se mexe para recuperar a dignidade de suas palavras. CARPINEJAR. Para onde vai o amor? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015, p. 86-87.